A evolução do sistema educacional brasileiro tem sido um tema de grande importância, especialmente após o impacto da pandemia de COVID-19. Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) divulgou os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), revelando indicadores de desempenho das redes públicas e privadas no Ensino Fundamental e Médio. Esses dados, para muitos, foram considerados preocupantes, sendo descritos como “tragédia” ou “desastre”. No entanto, acredito que a análise desses resultados merece uma interpretação mais profunda e diferenciada.
Primeiramente, é crucial reconhecer a solidez do nosso sistema de avaliação. O SAEB, em funcionamento há mais de 15 anos, tornou-se uma referência não só para o Brasil, mas também para outros países. Ele serve como uma bússola para gestores públicos em todo o país, fornecendo dados essenciais para o planejamento e intervenções nas redes de ensino estaduais e municipais. Esse sistema nos permite avaliar os progressos e desafios de forma contínua e estruturada.
Em segundo lugar, devemos considerar o impacto significativo da pandemia de COVID-19 no sistema educacional. Durante mais de dois anos letivos (2020, 2021 e parte de 2022), as escolas enfrentaram interrupções nas aulas presenciais, adotando modelos online ou híbridos, que, embora importantes, nem sempre mantiveram a qualidade desejada. Apesar desse contexto desafiador, o retorno aos patamares de desempenho pré-pandêmicos indica que o sistema educacional brasileiro conseguiu se manter resiliente, rapidamente recompondo as aprendizagens.
O atraso educacional do Brasil, no entanto, não é um fenômeno recente. Ele remonta a séculos de história, como apontado pelo jornalista Antonio Gois em seu livro “O Ponto a que Chegamos”. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão e a estabelecer universidades. No início do século XX, enquanto 90% das crianças nos Estados Unidos já frequentavam a escola, no Brasil, apenas 10% tinham acesso à educação básica. Esses fatos históricos ajudam a entender os desafios que enfrentamos até hoje.
Vivemos os acertos e erros do passado, e a educação básica, que é um processo de longo prazo, reflete esse legado. Implementar um novo currículo, por exemplo, demanda anos de construção, formação de professores e tempo para que os alunos percorram toda a trajetória educacional. É essencial que haja investimento contínuo e uma visão de longo prazo para garantir a evolução do sistema.
Olhando para exemplos atuais, vemos que o Nordeste brasileiro tem se destacado, mesmo em meio a contextos sociais adversos. O Ceará, por exemplo, lidera com a melhor rede pública de ensino nos Anos Iniciais e Finais. Pernambuco, com seu modelo de Escolas Integrais, obtém resultados superiores às escolas regulares de Ensino Médio. Teresina, por sua vez, se destaca como a capital com os melhores índices nas últimas quatro avaliações. Esses exemplos demonstram que o sucesso educacional não depende apenas de recursos, mas da capacidade de implementação e continuidade das políticas educacionais.